A posição de 4 Presidentes da República sobre as touradas

Presidentes da República e touradas
Presidentes da República e touradas

A plataforma Basta de Touradas faz uma análise da posição dos últimos 4 Presidentes da República em relação à polémica questão das touradas.

Desde 1974, foram vários os Presidentes que apoiaram o setor tauromáquico, sem que nenhum tenha assumido uma posição contrária a esta tradição repudiada pela maioria dos cidadãos portugueses.

Neste artigo analisamos as posições de Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e do atual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre este polémico tema e as suas relações com o setor tauromáquico.

Marcelo Rebelo de Sousa

Marcelo Rebelo de Sousa (2016 – presente)

Pouco tempo antes de se candidatar à Presidência da República, em 2015, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou numa entrevista ao Jornal “O Mirante” o seguinte: Já assisti diversas vezes a faenas sensacionais que terminaram com a morte do toiro, sobretudo em Espanha, e não me lembro de ter ficado indignado com o facto. Considerou ainda “incompreensível” haver “pessoas e movimentos que se opõem à realização de touradas em Portugal.

Enquanto candidato à Presidência esteve num festejo tauromáquico na praça de touros de Sobral de Monte Agraço, mas desde que foi eleito nunca mais voltou a ser visto numa praça de touros, apesar de ter sido várias vezes convidado.

Marcelo, é um confesso aficionado pelas touradas, especialmente as espanholas (com a morte do touro), mas tem procurado manter uma posição isenta e discreta em relação ao tema desde que assumiu a Presidência da República.

Em 2019 a Federação Prótoiro convidou Marcelo Rebelo de Sousa para o Dia da Tauromaquia no Campo Pequeno, bem como o Primeiro Ministro e a Ministra da Cultura. Nenhum dos governantes apareceu no evento que incluía uma corrida de touros.

No entanto, no dia 9 de maio de 2020, Marcelo Rebelo de Sousa concedeu uma audiência à Federação Prótoiro no Palácio de Belém, sem que a mesma tenha sido previamente anunciado ou sequer tenha sido incluída na agenda do Presidente da República.

Aparentemente, Marcelo Rebelo de Sousa não pretendia que esta audiência secreta fosse tornada pública, mas uma fuga de informação de um blog tauromáquico, fez com que o Presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET) confirmasse numa entrevista a sua participação nesta audiência no Palácio de Belém, revelando assim a existência do encontro secreto.

Perante esta informação, a Plataforma Basta de Touradas solicitou uma audiência ao Presidente, lembrando que não deve ouvir apenas a parte da sociedade que defende esta tradição, mas também, os que defendem a sua abolição. Marcelo Rebelo de Sousa nunca respondeu ao pedido formulado nem se pronunciou sobre a audiência com o setor tauromáquico.

Marcelo tem evitado falar do polémico tema das touradas, mantendo publicamente uma posição isenta em relação ao tema, apesar do seu fascínio confesso pela tauromaquia e ligações a este meio.

Aníbal Cavaco Silva

Aníbal Cavaco Silva (2006-2016)

Em 2006, quando tomou posse como Presidente da República, foi inaugurado o novo Campo Pequeno, depois de vários anos encerrado para obras de reabilitação. A presença de Cavaco Silva chegou a estar prevista na cerimónia de inauguração, que incluía uma tourada, mas o Presidente da República acabou por não comparecer, tal como o presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, que se fez representar pelo vice-presidente, Fontão de Carvalho, e pelos vereadores Gabriela Seara e António Proa.

Anos antes, quando era Primeiro Ministro, Cavaco Silva foi responsável por colocar as touradas sob a alçada do Ministério da Cultura com a aprovação do Regulamento Tauromáquico de 1991.

Enquanto Presidente da República tentou não se envolver publicamente na polémica das touradas, mas a 23 de julho de 2015, Aníbal Cavaco Silva decidiu atribuir a medalha de Membro-Honorário da Ordem do Mérito aos Forcados Amadores de Santarém, durante uma corrida de touros realizada na praça de touros do Campo Pequeno por ocasião do suposto centenário deste grupo. Perante o protesto de várias organizações, Cavaco acabou por não marcar presença na praça de touros para entregar a condecoração, sendo representado pelo Chanceler das Ordens Nacionais.

Tratou-se de uma distinção bastante polémica, por dois motivos. Primeiro porque existem dúvidas sobre a antiguidade dos forcados de Santarém, e a principal, porque nas vésperas de ser condecorado pelo Presidente da República, o responsável pelos Forcados de Santarém, afirmou numa entrevista que, se pudesse, eliminava o 25 de abril da história de Portugal.

Estas declarações seriam suficientes para cancelar a atribuição desta distinção pelo mais alto representante da nossa democracia, mas Cavaco Silva ignorou a polémica entrevista, que foi rapidamente apagada da internet.

Jorge Sampaio

Jorge Sampaio (1996-2006)

Aficionado das touradas foi o último Presidente da República a assistir a uma tourada numa praça de touros. Como Presidente da República assistiu a várias touradas no Campo Pequeno e homenageou diversas figuras do mundo tauromáquico.

No arquivo histórico da Presidência da República é possível encontrar várias imagens de Sampaio em praças de touros, como em Agosto de 1996 na Corrida de Touros do Sporting Clube de Portugal, em 19 de Junho de 1997, na Corrida de Touros da Associação dos Aposentados e Reformados da Radiodifusão Portuguesa e a 23 de Julho de 1998 na Corrida dos 500 anos das Misericórdias.

A Presidência de Jorge Sampaio ficou marcada pela polémica dos touros de morte em Barrancos em 2002. Foi durante a sua Presidência que a tradição de matar o touro no centro de Barrancos foi legalizada, e Sampaio foi um dos principais responsáveis pela aprovação da lei.

Na altura, numa deslocação a Barrancos, afirmou publicamente que O Presidente é a favor da legalidade mas, acreditando na autoridade democrática, recomenda que tentemos preservar as tradições e perceber os povos mais distantes. Há tradições que seria conveniente enquadrar legalmente de outra maneira. Estas declarações desencadearam uma série de propostas apresentadas por CDS-PP, PSD e PCP na Assembleia da República no sentido de conceder uma exceção na lei para Barrancos, permitindo que a morte do touro na arena da vila fosse legalizada.

Em vez de garantir o cumprimento da lei, que era sistematicamente violada todos os anos, mesmo na presença da GNR e das câmaras de televisão, Sampaio abriu a porta à aprovação de uma lei única, que na prática, concede um benefício do Estado a quem violou a legislação durante várias décadas. Esta lei, reconhece o estatuto legal às localidades onde a tradição da morte do touro na arena se manteve de forma ininterrupta durante os últimos 50 anos. Além de Barrancos, também Reguengos de Monsaraz beneficiou desta exceção.

Mário Soares

Mário Soares (1986-1996)

Apoiante da tauromaquia, marcou presença nas praças de touros para assistir a touradas durante a sua Presidência. Em 1989 durante a sua “Presidência aberta” Mário Soares deslocou-se à Ilha Terceira onde assistiu a uma “tourada à corda”, um tipo de festejo daquela ilha dos Açores.

No ano seguinte, em 1990, Mário Soares decidiu atribuir a medalha de Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém, pelos 75 anos de existência do grupo, embora existam dúvidas sobre a antiguidade deste grupo de forcados, como já referimos.

Apesar da sua simpatia pela tauromaquia, Mário Soares escreveu um texto em 2010 acerca da abolição das touradas na Catalunha, intitulado “Espanha, Catalunha e os touros“, já depois de ter concluído a sua Presidência. Soares afirma no texto que a abolição das touradas na Catalunha pode parecer estranha a quem considera as touradas como uma das características da identidade tradicional espanhola, afirmando que esta decisão estaria relacionada com a “guerrilha” política da Catalunha contra o centralismo espanhol ou castelhano.

No final do texto, Mário Soares escreve uma frase que parece colidir com a sua simpatia pela tauromaquia, ao referir que Portugal como país fraterno de Espanha só pode congratular-se, com esse corajoso passo, face ao futuro.