A luta das mulheres contra as touradas em Portugal

Durante a primeira metade do século XX e após a instauração da República em Portugal, foram várias as mulheres que se destacaram na luta pela abolição das touradas. Mulheres inconformadas com a falta de igualdade na sociedade portuguesa e com o machismo predominante que se manifestava também neste divertimento marialva.

A luta contra as touradas foi um dos temas abordados pelas mulheres republicanas do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas que, em 1927, apresentou uma proposta de defesa dos animais e, em Janeiro de 1931, integrada numa campanha de proteção dos animais realizou um abaixo assinado contra os touros de morte, numa altura em que o assunto foi amplamente discutido em Portugal.

A defesa da abolição das touradas como um espetáculo a que poderiam assistir crianças foi uma das principais causas abordadas na revista “Os Nossos Filhos” (1942-1958) contribuindo de forma significativa para sensibilizar muitas mães para este tema.

Aqui ficam algumas das mulheres que se destacaram na luta contra as touradas no início do século XX:

Vitória Pais Freire de Andrade

Vitória Pais Freire de Andrade (1883 – 1930)

Professora e militante feminista, foi uma das mais notáveis mulheres abolicionistas, organizando palestras e editando um livro sobre a barbaridade da tauromaquia, chamado “A ação dissolvente das touradas” onde abordava várias questões relacionadas com a violência e a degradação dos costumes associados à tradição marialva. Pertenceu à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, à Associação de Propaganda Feminista e ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.


Alzira Augusta de Lourdes Pinto Vieira

Alzira Augusta de Lourdes Pinto Vieira (1879 – 1970)

Professora primária oficial e escritora. Republicana assumida, militou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e engrossou, enquanto mulher e educadora, a campanha promovida contra as touradas, por as considerar impróprias de países civilizados.


Elina Guimarães

Elina Guimarães (1904 – 1991)

Advogada e uma lutadora incansável dos direitos das mulheres, associou-se ao movimento de oposição às touradas de morte. Em 1927, fez chegar duas representações ao ministro do Interior, protestando contra as touradas de morte e por as mulheres não serem consideradas eleitoras no projeto de Código Administrativo. Foi condecorada em 1985, com a Ordem da Liberdade pelo Presidente da República.


Beatriz Teixeira de Magalhães

Beatriz Teixeira de Magalhães (1928)

Professora do ensino primário geral juntou-se ao movimento pela abolição das touradas, a par da sua intensa atividade na defesa dos direitos das mulheres, dos princípios da Educação Nova e da Escola Única. Fez parte de várias organizações dos professores e de mulheres, assim como da Universidade Popular Portuguesa.


Adelaide Cabete

Adelaide Cabete (1867 – 1935)

Médica, professora, defensora dos direitos das mulheres e dos animais, foi abolicionista das touradas, e em 1933 proferiu a conferência “A paz e a criança” no Liceu Salvador Correia, em Luanda, alertando para os perigos dos brinquedos de guerra e dos espetáculos violentos, como as lutas e as touradas responsáveis por desenvolverem nas crianças a ferocidade.


Alice Moderno

Alice Moderno (1867 – 1946)

Alice Moderno notabilizou-se nos Açores (Ponta Delgada) desafiando os costumes conservadores do início do século XX. Foi uma professora, escritora, tradutora, jornalista, publicista e poetisa, distinguindo-se como feminista e activista dos direitos dos animais. Fundou em 1911 a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, pioneira no arquipélago dos Açores.

Desenvolveu programas de educação para os mais novos e foi autora de várias petições para banir as touradas de morte, que apesar de proibidas desde 1928, ainda persistiam em algumas localidades portuguesas.

Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas no Segundo Congresso Feminista, em 1928.
Direção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas no Segundo Congresso Feminista, em 1928. Primeiro plano, da esquerda para a direita: Maria Leonarda Costa, Isaura Seixas, Tetralda de Lemos (advogada), Maria do Céu Branquinho, Sara Beirão (escritora), Rosa Pereira. Segundo plano: Maria O’Neil (escritora), Angélica Porto (vice-presidente do CNMP), Beatriz Magalhães (professora), Adelaide Cabette (médica, presidente do CNMP). Terceiro Plano: Fábia Ochoa (professora), Maria da Luz Santos, Zoé Pereira, Mariana Silva, Elina Guimarães (advogada, vice-presidente do CNMP), Maria Luísa Amaro, Deolinda Lopes Viera (professora), Cipriana Nogueira e Fernanda Pimentel.
Fotografia do estúdio Furtado & Reis, Lisboa. PT-AHS-ICS-PQ-F-074

Fontes: