10 principais argumentos a favor das touradas

Desde a criação da Plataforma Basta de Touradas, temos sido confrontados com vários comentários e mensagens de pessoas aficionadas que nos apresentam os seus argumentos para defender a manutenção desta tradição anacrónica no nosso país.

Fizemos uma compilação dos 10 principais argumentos utilizados pelos defensores das touradas e desmontamos cada um deles com factos verdadeiros.

  1. A tourada é uma tradição.
  2. A tourada faz parte da cultura.
  3. Se não gostas não vejas.
  4. E tu não comes carne?
  5. Sem as touradas extingue-se uma espécie.
  6. Os touros nasceram para ser toureados.
  7. Os touros não sofrem nas touradas.
  8. A tourada gera muitos postos de trabalho.
  9. Preocupem-se com os sem abrigo ou com os velhinhos.
  10. As touradas estão protegidas pela Constituição.
Tradição

A tourada é uma tradição

  • Por ser tradição não significa que seja intocável e que tenha que ser mantida a todo o custo.
  • Muitas tradições desapareceram, outras adaptaram-se à evolução da sociedade.
  • Na região onde a tauromaquia se mantêm, existem muitas tradições em risco de desaparecer que não implicam agredir e fazer sofrer os animais.
  • O dinheiro que é gasto para manter a tradição tauromáquica devia ser usado para manter essas tradições, como por exemplo, o fandango, o artesanato, os bordados, etc.
  • A tourada é uma tradição ultrapassada, que consiste em agredir animais quase até à morte fazendo-os sofrer apenas por entretenimento.
Cavaleiro

A tourada faz parte da cultura

  • As touradas só passaram a estar afetas ao Ministério da Cultura em 1991.
  • Por incluir uma cultura de violência, sangue, mortes e maus tratos a animais, é uma cultura anacrónica que choca com os valores e princípios elementares na nossa sociedade atual.
  • O próprio Estado Português já reconhece o caráter violento das touradas ao obrigar que a publicidade inclua uma advertência de que “o espetáculo pode ferir a suscetibilidade dos espectadores“, tendo aprovado a sua classificação para maiores de 16 anos.
  • A esmagadora maioria dos municípios portugueses não têm qualquer relação com a tradição tauromáquica (mais de 80% no continente).
  • A cultura deve respeitar os valores civilizacionais. A tourada há muito que choca com esses valores.
Não vejas

3. Se não gostas não vejas

  • Se seguíssemos este princípio, a nossa sociedade não evoluía. Permanecia completamente estática. As mulheres não tinham direitos nenhuns. Os escravos continuavam a ser vendidos nas ruas e as pessoas enforcadas na praça pública.
  • No caso das touradas não se trata de gostar ou não. Trata-se de contestar o sofrimento e a crueldade que é infligida aos animais, algo que é fortemente condenado na nossa sociedade e até pela legislação que proíbe os maus tratos a animais, mas concede uma exceção para as touradas.
  • Olhar para o lado não resolve os problemas. Chama-se indiferença.
Carne

4. E tu não comes carne?

  • Não se trata de discutir as opções gastronómicas de cada pessoa. Trata-se de debater a crueldade com os animais por divertimento.
  • As opções gastronómicas são uma decisão individual de cada um/a. A tourada é um espetáculo público de entretenimento, inútil para a alimentação humana.
  • Há alguns anos atrás, a população de Lisboa deleitava-se com o abate de animais no matadouro municipal. Chegaram a montar bancadas para o povo assistir à matança. Hoje isso é impensável porque a sociedade evoluiu.
  • A questão do abate de animais para consumo humano é diferente da questão das touradas. No caso das touradas, os animais sofrem muitíssimo porque são mortos lentamente, sujeitos a um esforço tremendo enquanto são agredidos na arena, perdendo vários litros de sangue até serem finalmente transportados para o matadouro em condições indignas e inqualificáveis. Alguns morrem antes de chegar ao matadouro.
  • Confundir as opções alimentares individuais de cada indivíduo com a contestação de um espetáculo público de mero entretenimento, não é um debate sério.
espécie

5. Sem as touradas extingue-se uma espécie

  • Falso. O touro de lide não é uma espécie. É uma raça de bovinos criados pela mão humana, entre muitas centenas de variedades diferentes, algumas delas, bastante semelhantes aos touros de lide.
  • Com o fim das touradas não se extingue nenhuma espécie. A raça brava (ou de lide) é apenas uma das raças de bovinos domesticados pelos humanos, tendo sido criada pelos ganadeiros através de seleção genética. Cabe-lhes a eles dar outro destino a estes animais.
  • O turismo de natureza já mostrou ser uma opção viável, que atrai muitos turistas, desde que os animais não sejam agredidos e seja respeitado o seu bem-estar.
toureados

6. Os touros nasceram para ser toureados

  • Falso. Da mesma forma que as mulheres nasceram para ser donas de casa? Ou que os elefantes nasceram para trabalhar no circo?
  • Os touros de lide são bovinos domesticados pelos humanos que foram selecionados para ter um determinado comportamento quando atacados.
  • A maioria dos touros de lide criados nas ganadarias, são rejeitados pelos criadores por não apresentarem as caraterísticas ideais para as touradas. Só cerca de 13% são aceites e escolhidos para as touradas, segundo dados dos próprios criadores, pelo que a esmagadora maioria não apresenta as caraterísticas necessárias para a lide na arena. Este dado elimina este argumento. Os touros não nasceram para ser toureados.
  • Várias raças de bovinos foram selecionadas para produzir carne. Outras para produzir leite. No caso da raça brava, os animais são selecionados para produzir “comportamento” para as touradas, pelo que não nasceram com aptidões especiais para tourear. Eles são selecionados para isso.
  • Nenhum animal nasce para servir de diversão à espécie humana, muito menos à custa de violência, agressões e maus-tratos.
O touro não sofre

7. Os animais não sofrem nas touradas

  • Falso. A ciência é unânime em reconhecer a capacidade dos animais de sofrer e expressar sentimentos e emoções. Não existe nenhum estudo científico que indique que os touros de lide têm a capacidade de eliminar a dor. Se isso fosse verdade seria uma descoberta inédita no mundo da ciência.
  • O estudo apresentado em 2007 pelo Prof. Illera del Portal – que supostamente indica que os touros não sofrem – nunca foi reconhecido pela ciência nem publicado em nenhuma revista científica. Pelo contrário: O estudo foi bastante criticado pela comunidade veterinária, sem que alguma vez tenham sido esclarecidos os métodos utilizados no estudo para chegar àquelas conclusões.
  • Os touros sofrem bastante, antes, durante e após as touradas realizadas em Portugal. (ver aqui)
  • Sem esquecer que os cavalos também sofrem muito, e são sujeitos a vários tipos de agressões que colocam em causa o seu bem-estar e que, algumas vezes, lhes custam a própria vida. (ver aqui)
Postos de trabalho

8. A tourada gera muitos postos de trabalho

  • Falso. Não existem dados que demonstrem que as touradas geram muitos postos de trabalho, pelo contrário. Os dados existentes indicam que as touradas não criam empregos fixos em Portugal.
  • Em média, cada praça de touros recebe 2/3 touradas por ano, pelo que estes recintos não conseguem garantir a existência de postos de trabalho fixos.
  • A criação de touros de lide não é a atividade principal dos ganadeiros. Se os criadores de touros dependessem apenas das touradas não conseguiam sobreviver.
  • Os artistas tauromáquicos não conseguem realizar espetáculos e receitas suficientes para viver só das touradas. A maioria tem outras ocupações profissionais principais, tal como a esmagadora maioria dos empresários tauromáquicos.
  • O fim das touradas em vários municípios não deu origem a nenhum drama social. Pelo contrário. Em alguns casos, permitiu reconverter as praças em recintos multiusos, abertos durante todo o ano, sem perder qualquer emprego e criando dezenas de novos postos de trabalho. (Ver mais aqui)
Sem abrigo e velhinhos

9. Preocupem-se com os sem-abrigo ou com os velhinhos

  • Um dos piores argumentos para defender as touradas. O facto de se contestar as touradas pela sua violência e crueldade contra os animais e defender a sua abolição, não significa que as pessoas não se preocupem com outras questões sociais, com as pessoas desfavorecidas ou com outros animais.
  • O mesmo se pode dizer dos defensores das touradas: dediquem-se a combater o abandono e maus-tratos a animais, que é bem mais útil para a sociedade do que os agredir na arena. Por outro lado, o que é que os sem-abrigo ou os “velhinhos” beneficiam com a realização de touradas?
  • Não existem causas mais prioritárias do que outras. Se as sociedades tivessem que decidir quais as causas mais urgentes, ou mais importantes, passávamos a nossa vida inteira a discutir, sem fazer qualquer tipo de avanço.
Constituição e touradas

10. As touradas estão protegidas pela Constituição

  • Falso. Este argumento tem sido bastante utilizado ultimamente associado à palavra “liberdade”. Algumas pessoas vão mais longe e afirmam que as touradas são “parte integrante do património cultural imaterial Português, de acordo com as normas da UNESCO”, o que é totalmente falso. A UNESCO não reconhece (nem nunca irá reconhecer) as touradas como património cultural e o Estado Português nunca classificou as touradas como Património Cultural Imaterial.
  • A Constituição não protege as touradas nem sequer fala delas. A única referência existente na legislação, é uma frase no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 89/2014 de 11 de junho (Regulamento do Espetáculo Tauromáquico) onde se afirma que “a tauromaquia é, nas suas diversas manifestações, parte integrante do património da cultura popular portuguesa“, mas esse estatuto nunca foi oficialmente reconhecido. É preciso ter em conta que o mesmo preâmbulo reconhece que “a salvaguarda do interesse público passa também pela harmonização dos interesses dos vários intervenientes no espetáculo tauromáquico e pela defesa do bem-estar animal”, o que é ignorado e omitido por quem utiliza este argumento.
  • Além disso, o mesmo Regulamento Tauromáquico reconhece que a tourada “pode ferir a suscetibilidade dos espectadores“, ou seja, o Estado Português já reconhece na lei que as touradas são um espetáculo violento que pode perturbar o público que a ele assiste.
  • Vários Constitucionalistas reputados já esclareceram publicamente que a Constituição Portuguesa não impede a abolição das touradas (ver aqui).

Outros argumentos falsos:

Ao longo dos últimos anos temos sido confrontados com os argumentos mais diversos e absurdos para justificar as touradas: desde a comparação do cravar das bandarilhas com uma sessão de acupuntura. Um cavaleiro tauromáquico chegou a comparar a lesão das lâminas das bandarilhas com a picada de um alfinete.

Alguns autores aficionados até referem que a tauromaquia tem origem no culto do boi Apis, divindade adorada pelos antigos egípcios. No entanto para os egípcios eram impensável alguém tentar ferir ou atacar este animal, que era tratado como um Deus, mantido num santuário especial, apaparicado por sacerdotes, enfeitado com ouro e joias e adorado pelas multidões.

Na tentativa de demonstrar que a tauromaquia é muito antiga, outros autores referem-se aos jogos dos antigos gregos, ou os rituais da Civilização Minoica, mas essas práticas não têm qualquer tipo de relação com as touradas. Se fosse verdade, porque é que na Grécia não existe nenhum rasto da tradição tauromáquica?

Outro argumento falso, é que o touro de lide é uma espécie selvagem. Na verdade, não é nem uma coisa nem outra. Os bovinos domesticados, onde se incluem os touros de lide, descendem do Auroque, um bovino selvagem que se encontra extinto há séculos, devido à caça excessiva. Não são uma espécie, nem um touro selvagem. É uma raça bovina domesticada.

Frequente é também o recurso a artistas famosos para legitimar a tourada como cultura. Um dos casos mais frequentes é o de Francisco de Goya, famoso pintor espanhol que nunca defendeu a tauromaquia, tendo retratado o seu caráter violento, como reconhece a própria “Real Academia de Belas Artes de San Fernando” (Madrid), onde se encontram depositados os originais das suas gravuras da coleção “Tauromaquia”.

Outro nome é o do escritor Ernest Hemingway, que apesar de ser assumidamente aficionado pelas touradas de morte, também reconhece nos seus livros o caráter violento e cruel das touradas ao afirmar que “de um ponto de vista moral moderno, ou seja, um ponto de vista cristão, toda a corrida de touros é indefensável“.

Outra mentira que é afirmada com frequência, é que as touradas nunca vão acabar. Muitas práticas cruéis desapareceram ao longo das últimas décadas e as touradas estão claramente em declínio a cada ano que passa, não só em Portugal, mas também em Espanha onde a maioria da população defende a abolição desta tradição anacrónica. Também na América do Sul, é evidente o declínio da tauromaquia que se reflete na sua abolição em vários estados e cidades onde a tradição foi introduzida pelos espanhóis.

Os portugueses levaram as touradas para o Brasil e para África, mas há muito que a atividade tauromáquica desapareceu nestas paragens. No Brasil, as touradas foram definitivamente abolidas em 1934.

Sim, as touradas vão acabar.