Comité dos Direitos da Criança alertou em 2019 para a violência das largadas de touros.
Após a morte do adolescente, a festa continuou na Moita nos dias seguintes.
Todos os anos as largadas provocam feridos e mortos em Portugal.
Um jovem de apenas 15 anos morreu na madrugada de 21 de maio numa largada de touros realizada na Moita no segundo dia das Festas de Maio. O jovem foi colhido por um touro, cerca das 2 horas da madrugada no centro da Moita, tendo sofrido uma perfuração na garganta tendo falecido no Hospital do Barreiro, vítima dos graves ferimentos.
A colhida do jovem provocou uma situação de pânico nas ruas da Moita, com centenas de pessoas a assistir ao momento dramático, num evento promovido pela Câmara Municipal.
No entanto, e apesar da morte deste jovem, a “festa” prosseguiu nos dias seguintes, indiferente à tragédia ocorrida e em desrespeito pela vítima, pelos seus familiares e numa demonstração de desprezo pela vida humana.
Quatro dias após esta morte trágica realizou-se uma reunião de Câmara na Moita onde não foi feita qualquer referência ao episódio ocorrido durante as largadas. Além disso, no dia 8 de junho, menos de um mês depois da morte do adolescente, a Câmara Municipal aprovou por unanimidade a atribuição de um apoio financeiro à Escola de Toureio e Tauromaquia da Moita, frequentada por crianças pequenas que aprendem a ser “matadores”1.
Na imprensa foi divulgado que o jovem tinha 16 anos, mas a informação é falsa. Na verdade, tinha apenas 15 anos o que agrava ainda mais a responsabilidade dos promotores deste evento e das entidades que, desde 2014, estão alertadas para os perigos das largadas de touros, a participação de crianças nestes eventos e o risco iminente de acontecer uma situação como esta.
Todos os anos as largadas de touros provocam feridos graves e vítimas mortais em Portugal, no entanto, esta atividade violenta continua a não estar regulamentada no nosso país, ao contrário do que acontece em Espanha.
Além disso, existe uma preocupação do setor tauromáquico em tentar ocultar os acidentes ocorridos neste tipo de festejos, principalmente quando as vítimas são menores de idades ou mesmo quando morrem animais nas largadas, o que revela uma consciência dos danos que estes incidentes podem ter na manutenção destas tradições violentas.
1. https://www.cm-moita.pt/cmmoita/uploads/document/file/4779/xiii_mandato_ata_11_08_06_22.pdf
Comité dos Direitos da Criança já tinha alertado para a violência das largadas em Portugal
Este problema já tinha sido alvo de alertas do Comité dos Direitos da Criança da ONU que se referiu especificamente à violência das largadas de touros e a necessidade do Estado intervir para garantir a proteção das crianças e jovens. Em setembro de 2019, o Comité referiu no seu relatório de avaliação de Portugal, que o Estado Português devia estabelecer a idade mínima para participação e assistência em touradas e largadas de touros, inclusive em escolas de toureio, em 18 anos, sem exceção, e sensibilizar os funcionários do Estado, a imprensa e a população em geral sobre efeitos negativos nas crianças, inclusive como espectadores, da violência associada às touradas e largadas.
Neste sentido, a ausência de intervenção do Estado em travar este tipo de atividades violentas e de adotar legislação que garanta a proteção das crianças e jovens, constitui uma irresponsabilidade grave, que resultou em mais uma lamentável tragédia.
A Plataforma Basta de Touradas espera que o Governo não continue a ignorar este tipo de violência e que garanta que este tipo de largadas deixem de ser promovidas de forma caótica, sem que ninguém assuma responsabilidades pelo que possa acontecer nas ruas, aprovando legislação que regulamente este tipo de eventos.
A Plataforma Basta de Touradas lamenta a morte deste jovem e apresenta as suas sentidas condolências à família.
Atualização: No dia 1 de junho de 2022 o Partido PAN apresentou uma pergunta escrita ao Ministério do Trabalho Solidariedade e Segurança Social sobre a morte deste adolescente de 15 anos. A pergunta pode ser consultada na página da Assembleia da República: