Campo Pequeno é propriedade da Casa Pia desde a sua construção;
Álvaro Covões assumiu a gestão da arena em 2020 insistindo na realização de touradas;
Câmara de Lisboa já esclareceu que não é obrigatório realizar touradas no Campo Pequeno;
As touradas voltaram ao Campo Pequeno no dia 30 de julho de 2020 por iniciativa do empresário Álvaro Covões, que decidiu manter a atividade tauromáquica em Lisboa depois de ter assumido a gestão daquele recinto que é propriedade da Casa Pia.
Um pequeno enquadramento histórico:
A praça de touros do Campo Pequeno é propriedade da Casa Pia desde a sua inauguração em 1892.
Nos últimos anos o Campo Pequeno foi gerido pela Sociedade de Renovação Urbana Campo Pequeno, S.A. (SRUCP), que foi responsável pela reabilitação do edifício acrescentando à arena, um centro comercial, lojas exteriores e um parque de estacionamento.
Em 2014 esta sociedade (SRUCP) foi decretada insolvente, com dívidas de largos milhões de euros, pelo que a Casa Pia decidiu entregar a gestão do espaço a uma nova empresa. A empresa vencedora foi o empresário Álvaro Covões (proprietário do Coliseu de Lisboa e promotor do Festival NOS Alive) e o fundo Horizon Equity Partners, de António Pires de Lima e Sérgio Monteiro.
No negócio com a Casa Pia, Álvaro Covões ficou a gerir a arena do Campo Pequeno e o centro comercial, enquanto o fundo de Pires de Lima e de Sérgio Monteiro ficou responsável pela gestão do parque de estacionamento.
Para gerir o Campo Pequeno, Álvaro Covões criou em 2019 a empresa “Plateia Colossal – Unipessoal Lda.” anunciando a abertura de um concurso para a exploração da atividade tauromáquica na praça de touros, concedendo 6 datas anuais para a realização de touradas. O vencedor do concurso foi o empresário tauromáquico Luís Pombeiro, com a empresa “Ovação e Palmas“, que vai promover os espetáculos tauromáquicos no recinto.
Câmara cedeu terreno à Casa Pia
A realização de touradas em Lisboa nunca foi consensual, motivando uma forte contestação social. A Plataforma Basta de Touradas constatou que a Casa Pia ficou com o exclusivo das touradas em Lisboa em 1821 por ordem de D. João VI após uma visita à instituição. Como o Estado não tinha recursos para apoiar os mais desfavorecidos, instituições como a Casa Pia e as Misericórdias organizavam touradas para obter receitas para o seu trabalho.
A 21 de agosto de 1837 foi novamente concedido o exclusivo das touradas em Lisboa à Casa Pia, com a condição de que toda a receita financeira devia reverter para obras de caridade. A lei tinha por objetivo impedir que as touradas se tornassem num negócio comercial lucrativo.
Em 1889 a Câmara Municipal de Lisboa cedeu o terreno para a construção da praça de touros no Campo Pequeno com a condição de ali se realizarem espetáculos tauromáquicos e outros divertimentos, e que a Casa Pia não alienasse o edifício a terceiros nem lhe desse outro destino. O incumprimento destas condições anulava o contrato de concessão e o terreno passava novamente para o domínio municipal, pelo que a Casa Pia insistiu, durante os últimos anos, que se fizessem touradas no Campo Pequeno com receio de incumprir o contrato.
Medina desobrigou a Casa Pia de realizar touradas
Por pressão do PAN e da Plataforma Basta de Touradas, em 2019 o Presidente da Câmara de Lisboa enviou um ofício à Casa Pia desobrigando a instituição de realizar touradas no Campo Pequeno, esclarecendo que “a Casa Pia de Lisboa tem a mais ampla liberdade na decisão quanto à atividade a realizar no recinto em causa e quanto aos termos e condições do contrato estabelecido com a Sociedade de Reabilitação Urbana do Campo Pequeno, ou outros que entenda vir a celebrar, sendo certo que a realização de espetáculos tauromáquicos nunca será para o município de Lisboa condição de manutenção da concessão”.
Fernando Medina ainda acrescentou que “Os princípios e valores de alta benemerência social que justificaram ao longo do tempo a atribuição de tais direitos pelo município são os mesmos que hoje exigem” que a Casa Pia decida poder “não vir a realizar naquele local espetáculos tauromáquicos”.
Neste sentido, o empresário Álvaro Covões tinha a liberdade de abdicar da realização de touradas no Campo Pequeno, libertando aquele belo espaço do sofrimento e do sangue de milhares de animais. No entanto decidiu abrir um concurso para a realização de 6 touradas em 2020, processo que se complicou com a pandemia de COVID-19.
Numa entrevista em novembro de 2019, Álvaro Covões referiu que se as touradas se mantivessem no Campo Pequeno, não seria certamente por questões financeiras, porque, segundo o empresário “A tauromaquia não é propriamente um negócio por excelência em Portugal. Não é a tauromaquia que vai viabilizar qualquer negócio na gestão de um equipamento, portanto não é tema. Neste momento tema é o negócio contratual e de viabilização económica”1.
Estas declarações alimentaram a possibilidade da nova gestão abdicar da realização de touradas naquele recinto, algo que acabou por não se concretizar, por motivos que se desconhecem, mas claramente por opção do empresário.
1. Álvaro Covões ainda não tomou qualquer decisão sobre touradas no Campo Pequeno – NiT
89% dos lisboetas nunca viram uma tourada no Campo Pequeno
Em 2018 uma sondagem realizada pela Universidade Católica para a Plataforma Basta de Touradas, demonstrou que a maioria dos cidadãos lisboetas não concorda com a realização de touradas na cidade (69%) e que a esmagadora maioria (96%) concorda que se realizem outros eventos, que não touradas, no Campo Pequeno.
O estudo realizado porta a porta a mais de um milhar de cidadãos de Lisboa, indica ainda que 75% da população não concorda com a utilização de dinheiros públicos para financiar a atividade tauromáquica.
A Plataforma Basta de Touradas acredita que a realização de touradas em Lisboa é cada vez mais inviável por se tratar de uma atividade anacrónica e cada vez mais repudiada pela violência e por toda a crueldade a que são sujeitos os animais.
Está na hora de Lisboa dizer adeus às touradas
Polémica com João Moura no Campo Pequeno
O empresário que promove touradas no Campo Pequeno decidiu promover uma tourada de homenagem ao cavaleiro João Moura, acusado de maus tratos a animais depois de uma denúncia em que foram encontrados vários cães abandonados e em estado miserável na sua propriedade. A homenagem decorreu no “Dia do Cão”.