Touradas para turistas na praça de touros de Albufeira causam feridos

Tourada para turistas na praça de touros de Albufeira são ilegais e já foram denunciadas à IGAC;

IGAC fecha os olhos ao que se passa na praça de touros de Albufeira;

Turista acusa promotores de terem recusado assistência médica a pessoa ferida.

Acidentes na praça de touros de Albufeira.
No final da tourada, a organização solta uma vaca na arena para os turistas. (Foto: Praça de touros de Albufeira/Facebook)

Os promotores de espetáculos tauromáquicos na praça de touros de Albufeira, na tentativa de cativar alguns turistas para o recinto, soltam uma vaca no final dos espetáculos tauromáquicos, para ser lidada pelo público.

A “brincadeira” tem causado muitos acidentes com feridos, e constitui uma clara violação do Regulamento do Espetáculo Tauromáquico (RET), promovida à vista de todos, sem que os Delegados Técnicos Tauromáquicos designados pela Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC) para fiscalizar os espetáculos na praça de touros de Albufeira, impeçam que esta situação se repita, sempre que se promovem touradas naquele espaço.

A lide de reses bravas é uma atividade de alto risco que tem causado acidentes de extrema violência com feridos graves e até mortes nas arenas portuguesas. Além disso, o RET não prevê a lide de reses de raça brava pelo público, situação que devia ser acautelada pelos Delegados Técnicos Tauromáquicos que são designados pela IGAC para supervisionar as touradas realizadas na praça de touros de Albufeira. Os artistas que atuam nestes espetáculos devem estar devidamente registados na IGAC e possuir seguro de acidentes, o que não é o caso dos turistas que pagaram bilhete para assistir ao espetáculo na bancada.

Turista acusa promotores de recusar assistência médica

Ninguém se responsabiliza pelos acidentes ocorridos na arena de Albufeira, e há denuncias que os promotores se recusaram a prestar assistência médica a uma turista ferida.

Nas redes sociais da praça de touros é possível ver imagens e vídeos de acidentes com turistas, que enfrentam os animais ao mesmo tempo que consomem cerveja oferecida pela organização, situação que dá origem a acidentes e podem vir a mancham a imagem do nosso país no estrangeiro, caso aconteça um acidente mais grave.

Uma das turistas que participou nestes eventos, apresentou a sua reclamação na página de Facebook da praça de touros, relatando um acidente grave no passado dia 2 de Agosto, que vitimou a sua mãe na arena de Albufeira. Segundo o testemunho, os responsáveis pela praça de touros soltaram uma vaca no recinto onde estavam algumas pessoas do público. Uma dessas pessoas foi gravemente colhida e sofreu diversos ferimentos, tendo sido transportada para a enfermaria da praça de touros. Aí, os responsáveis pelo recinto recusaram prestar socorro à vítima, não tendo chamado os bombeiros para assistir a pessoa ferida, que foi transportada para o hospital pelo filho.

Uma das exigências da legislação, é a presença de um médico, socorristas e uma ambulância para prestar assistência médica nas praças de touros. Esta exigência é aliás, uma das condições para a realização de qualquer espetáculo tauromáquico, pelo que o episódio assume contornos mais graves e levanta sérias suspeitas sobre a forma como esta tourada foi licenciada e fiscalizada pela IGAC.

Nestas situações, em que a “brincadeira” resulta em acidentes com alguma gravidade, os promotores tentam fugir à responsabilidade ocultando os acidentes em espetáculos que não são legais, ou seja, não foram legalmente autorizados.

O episódio alerta para os perigos desta “brincadeira” e a IGAC não está isenta de responsabilidades, porque durante o espectáculo estão presentes dois Delegados Técnicos Tauromáquicos (Um Veterinário e um Diretor de Corrida) designado pela entidade pública, pagos pelos contribuintes, que têm a obrigação de saber que existe uma rés de reserva nos curros para ser lidada no final pelo público, como é anunciado – aliás – na publicidade, e a existência de assistência médica no recinto.

Plataforma Basta tem denunciado o caso da Albufeira

A plataforma Basta de Touradas, tem vindo a denunciar esta situação à IGAC nos últimos anos, bem como as condições de segurança da praça de touros de Albufeira, sem que a entidade pública intervenha ou preste esclarecimentos sobre este assunto.

Em 2018 a plataforma Basta de Touradas solicitou à IGAC informação sobre as Medidas de Autoproteção da praça de touros e cópia da documentação existente relativa à segurança contra incêndios em edifícios e autorização de funcionamento da praça de touros de Albufeira, mas a informação nunca foi fornecida. 

Desconhecemos se o recinto se encontra, ou não, devidamente licenciado e se cumpre todas as regras de segurança, no entanto, o auto de vistoria de 2017, dizia expressamente que a praça devia implementar as medidas de autoproteção, bem como outras medidas de segurança.

A praça de touros de Albufeira é o recinto que mais espetáculos tauromáquicos recebe anualmente em Portugal, mas é também o que tem a mais baixa taxa de público, além de não contar com qualquer apoio por parte da autarquia local.

Dos poucos turistas que entram na praça de Albufeira, muitos abandonam o recinto a meio do espetáculo, ou saem após o cravar das primeiras bandarilhas, porque não têm noção que o espetáculo envolve violência contra animais e sangue verdadeiro. A publicidade é enganadora, porque indica que “o touro não será morto” e anunciam o espetáculo como “sem sangue”, o que não corresponde à realidade.

A Plataforma Basta de Touradas exige o apuramento de responsabilidades pelas largadas na praça de touros promovidas “extra-espetáculo” em Albufeira, e insiste para que a IGAC faça cumprir o Regulamento do Espetáculo Tauromáquico no que diz respeito às condições de segurança do espaço e às regras de bem estar animal.

Plataforma Basta de Touradas.

Lisboa, 27 de setembro de 2019.