Atenção: As imagens são violentas e podem ferir a suscetibilidade dos leitores mais sensíveis.
A Plataforma Basta teve acesso a imagens inéditas da sequência da morte do touro em Monsaraz, evento que mereceu o licenciamento da Inspeção Geral das Atividades Culturais.
As imagens, de extrema crueza e brutalidade, mostram um touro indefeso, amarrado pela cabeça, golpeado de forma bárbara por elementos indiferenciados da população que, a sangue frio, matam o animal com facas na arena do Castelo de Monsaraz, no passado dia 8 de setembro.
Estas imagens mostram um evento que é considerado pelo Estado como parte integrante da cultura portuguesa, tendo sido devidamente licenciado pela autoridades nacionais ao abrigo do nº 4 do artigo 3º da lei 92/95 de 12 de setembro, na redação dada pela lei nº 19/2002 de 31 de julho. A legislação premeia quem violou a lei durante 50 anos ininterruptos, permitindo que estes eventos sejam legalmente realizados. Ou seja, o Estado reconhece quem sistematicamente violou a lei de forma contínua, concedendo aos prevaricadores uma excepção com base na “tradição”, situação que se aplica em Barrancos e Monsaraz.
Ao contrário do que é insistentemente referido por esta indústria decadente, os espetáculos tauromáquicos, além do colorido dos trajes e da melodia dos acordes do “pasodoble”, implicam um nível de crueldade e de insensibilidade que a esmagadora maioria da sociedade portuguesa condena e com a qual não se identifica. As festas com touros de morte em Monsaraz são apenas um dos exemplos da extrema violência real da tauromaquia. Mas enquanto aqui a crueldade ocorre na rua, nas “corridas de touros” o lado mais cruel é escondido da opinião pública. Nomeadamente o arrancar das bandarilhas, que é feito brutalmente nos curros das praças de touros ou nos camiões de transporte, com os animais ainda vivos, sem qualquer tipo de assistência veterinária, tendo os touros que suportar o sofrimento resultante do desgaste físico e das lesões provocadas durante a lide, até serem abatidos no matadouro ou morrerem pelo caminho.
A cruenta tradição da morte do touro pela população é promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Monsaraz, com a colaboração da Câmara Municipal, entidades que deveriam promover a empatia e respeito pelos animais bem como o combate à violência. A Plataforma Basta considera que as tradições devem ter em conta o contexto cultural em evolução e os valores de uma sociedade nacional, não devendo a violência e a crueldade ser branqueadas com o argumento da “liberdade”, nem merecer a aprovação e a valorização do Estado português.
Crianças têm acesso à violência de Monsaraz
Nos vídeos de Monsaraz vêm-se crianças a assistir à morte do touro, num espectáculo que a legislação portuguesa permite, aliás, que seja presenciado por crianças maiores de 3 anos (acompanhadas por adulto), tal como os restantes espectáculos tauromáquicos.
As festas com touros de morte em Monsaraz incluíram, porém, eventos ilegais: dois “encerros para crianças” e uma “aula prática de toureio” com alunos de escolas de toureio portuguesas (que continuam sem qualquer regulamentação). Estas situações foram denunciadas à IGAC e à Comissão Local de Proteção das Crianças e Jovens, sem que estas autoridades se tenham pronunciado sobre as manifestas ilegalidades.
A violência destas imagens ilustra uma realidade que muitos portugueses desconhecem. Os animais utilizados nas touradas em Portugal são sujeitos a um tratamento bárbaro e indigno de um país civilizado, não só em Monsaraz, mas em várias praças de touros do país.
Sabemos que há felizmente em Monsaraz muita gente que não se identifica nem concorda com esta barbaridade, tal como a esmagadora maioria dos portugueses, que quer ver abolidas estas práticas.
Plataforma Basta. 25 de setembro de 2018