Estudo confirma que maioria da população portuguesa é contra as touradas

Quase 67% da população portuguesa considera que as touradas não devem ser permitidas.

85% admitem que o touro sofre nas touradas.

Artigo foi publicado na Revista científica “Animals“.

Um estudo publicado em 2020 na revista científica “Animals“, revela que 67% da população portuguesa considera que as touradas não devem ser permitidas. Apenas 30,3% consideram que as touradas devem ser mantidas e 2,8% dos inquiridos neste estudo, não responderam à questão.

Os dados fazem parte do artigo científico intitulado “Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia1 que foi redigido por seis investigadores das Universidades de Santiago de Compostela (Espanha), Universidade de Évora, Instituto Piaget, Universidade de Guelph (Canadá) e do Instituto Politécnico de Portalegre.

Neste estudo foram avaliadas as respostas de 8.248 pessoas de nacionalidade portuguesa, através de um questionário com várias perguntas relacionadas com a atividade tauromáquica em Portugal.

Analisando os dados obtidos, o estudo conclui que o sofrimento dos touros durante as touradas é reconhecido de forma generalizada pela população portuguesa, mas a abolição das mesmas continua a dividir a sociedade e não encontra apoio no Governo. O sofrimento dos animais é também a principal razão para defender a abolição das touradas em Portugal.

Os responsáveis pelo estudo admitem que as pessoas mais interessadas neste polémico assunto foram as que mais mostraram vontade em responder às perguntas o que pode constituir uma limitação nos resultados finais.

No entanto, resulta claro que a esmagadora maioria dos entrevistados concorda com a abolição das touradas, como se pode ver nesta questão:

As touradas devem continuar a ser permitidas?%
Sim30,3
Não
(principalmente pelo bem-estar animal)
64,5
Não
(por outras razões, como efeitos negativos na cultura ou imagem do país)
2,4
Não responderam2,8
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” publicado na Revista Científica “Animals” em 7 de novembro de 2020.

Segundo estes dados, apenas 30% da população portuguesa entende que as touradas devem continuar a ser permitidas. No total, cerca de 70% responderam que as touradas não devem ser permitidas (66,9%), sendo que a maioria defende a abolição das touradas pela questão dos bem-estar animal (64,5%) e 2,4% por outras razões, como a imagem negativa para o país.

Além da continuidade das touradas o estudo analisa outras questões, como por exemplo a importância desta atividade para a economia. 56% das pessoas consideram que as touradas não favorecem a economia portuguesa.

As touradas favorecem a economia?%
Não 56,0
Sim35,5
Não responderam8,5
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)

Em relação ao impacto das touradas no turismo e na cultura, o estudo conclui que a maioria dos inquiridos considera que as touradas não favorecem o turismo nem a cultura em Portugal:

As touradas favorecem o turismo?%
Não 62,3
Sim32,6
Não responderam5,2
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)
As touradas favorecem a cultura?%
Não 67,2
Sim30,2
Não responderam2,6
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)

Sobre a polémica questão do financiamento público da tauromaquia, as respostas são ainda mais consensuais. A esmagadora maioria considera que a tauromaquia não deve receber mais fundos públicos (71,4%) e apenas 24,3% consideram que sim:

As touradas devem receber mais fundos públicos?%
Não 71,4
Sim24,3
Não responderam4,3
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)

64,2% consideram que a tradição das touradas não gera conotações positivas para o nosso país:

As touradas geram conotações positivas para o país?%
Não 64,2
Sim23,3
Não responderam12,5
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)

A questão que reuniu maior consenso foi, sem dúvida, o sofrimento dos animais nos espetáculos tauromáquicos. Cerca de 85% dos inquiridos concordam que os touros sofrem nas touradas, onde se incluem algumas pessoas que defendem a manutenção desta tradição:

Os touros sofrem durante as touradas?%
Sim84,7
Não11,5
Não responderam3,8
An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting” (Uma Avaliação da Opinião da Sociedade Portuguesa sobre a Prática da Tauromaquia)

Noutras questões colocadas neste estudo, são analisadas as relações entre o sofrimento dos animais nas touradas e outros animais (golfinhos e cães) e com os seres humanos.

83% considera que a capacidade de sofrimento de um touro numa tourada é igual à capacidade de sofrimento de um golfinho, 83,1% consideram que é igual a um cão e 78,3% consideram que é igual à capacidade de sofrimento de um humano.

59,5% dos inquiridos consideram que os touros de lide não desaparecem com a abolição das touradas, contra 31,3% que consideram que sim.

Os responsáveis pelo estudo concluem que os resultados demonstram que a maioria dos inquiridos têm opiniões negativas sobre as touradas, e que, embora elas ainda sejam populares em algumas regiões de Portugal, “perderam relevância numa sociedade mais moderna”.

Homens do interior são quem mais defende as touradas

Curiosamente, a maioria dos inquiridos indicou que deixou de ir às touradas por razões de bem-estar animal o que indica uma crescente consciência social para esta questão. As touradas têm maior apoio em zonas rurais e nos homens. Neste estudo as opiniões mais favoráveis às touradas foram alcançadas nos Distritos de Santarém, Évora, Beja e Portalegre.

Entre o grupo com opinião negativa em relação às touradas destacam-se as mulheres, pessoas que se identificam como agnósticos ou não-católicos romanos, com um nível médio de rendimento e de áreas mais urbanas.

Estes resultados demonstram uma evolução positiva em relação à opinião dos portugueses em relação à abolição das touradas. Em 2007 uma sondagem revelou que 51% da população portuguesa era contra a realização de touradas e 39% era a favor (Monteiro et al. 2007).

Manifestação contra as touradas em Lisboa (Campo Pequeno)
Manifestação contra as touradas em Lisboa (Campo Pequeno) em agosto de 2021.

1. “An Evaluation of Portuguese Societal Opinion towards the Practice of Bullfighting“. Publicado por MDPI a 7 de novembro de 2020. Consultado em: https://www.mdpi.com/2076-2615/10/11/2065 no dia 22 de novembro de 2021.