As restrições impostas para o combate à Covid-19 levaram ao cancelamento de vários espetáculos tauromáquicos previstos para o mês de Março em Portugal nas praças de touros de Beja, Moita, Santarém, Vila Franca de Xira, Chamusca e Évora.
A Plataforma Basta de Touradas estima que só neste mês de março tenham sido poupados da crueldade das corridas e do abate cerca de 40 touros de lide, devido ao cancelamento da temporada tauromáquica, sem contabilizar os cavalos frequentemente vítimas de colhidas neste tipo de eventos.
O número de animais poupados à crueldade e ao abate pode ultrapassar as duas centenas, com a manutenção do estado de emergência nos meses de abril e maio.
A estes animais somam-se os que são habitualmente utilizados em garraiadas e largadas de touros que estavam previstas para este mês e foram canceladas.
Infelizmente muitos bezerros e novilhos continuam a ser sacrificados nas “tentas” realizadas nas herdades de criadores de touros de lide e nos treinos de cavaleiros tauromáquicos.
A Plataforma Basta de Touradas espera que o Governo não repita a atuação de 1998 no âmbito das medidas de emergência em matéria de proteção contra a encefalopatia espongiforme bovina e a febre aftosa.
Na altura a União Europeia proibiu a exportação de bovinos, incluindo os touros de lide. No entanto em março de 1999 o lobby das touradas conseguiu uma surpreendente autorização especial, que lhes permitiu comercializar os animais mediante determinadas condições técnicas e de controlo e ainda compensação financeira aos ganadeiros tauromáquicos pelos alegados prejuízos resultantes das imposições da Comunidade Europeia, concedendo uma linha de crédito especificamente para aos criadores de touros de lide através do Decreto-lei no 572/99 de 24 de dezembro.
A 15 de março de 2001 a Direção-Geral de Veterinária (DGV) proibiu a realização de qualquer concentração ou espetáculo de animais no país, como touradas, chegas de bois, feiras, concursos pecuários e corridas de cavalos, por tempo indeterminado, no âmbito da política de proteção e prevenção contra o surto de febre aftosa que alastrava de forma preocupante, infetando milhares de animais em vários países.
Apenas 12 dias depois desta decisão a Direção Geral de Veterinária emitiu um edital autorizando excepcionalmente a realização de touradas, garantindo a realização da temporada tauromáquica e ignorando os riscos para a saúde pública.
A Plataforma Basta de Touradas já antecipa com repúdio que a indústria tauromáquica, que se alimenta dos fundos públicos da União Europeia e de algumas autarquias, mais cedo ou mais tarde venha reclamar indemnizações e apoios do Estado.
Esperamos que o Governo não ceda aos interesses deste lobby canalizando fundos públicos para uma atividade violenta, que coloca em causa o cumprimento da Convenção dos Direitos da Criança e que implica maus tratos a milhares de animais.
Todos os anos cerca de 1.200 bovinos são agredidos nas arenas e mais tarde abatidos no matadouro, após transporte em condições atrozes, em resultado dos espetáculos tauromáquicos licenciados em Portugal. A estes juntam-se muitas centenas de animais utilizados em eventos tauromáquicos ilegais e os cavalos, que não beneficiam de qualquer proteção legal nesta atividade desumana.
Plataforma Basta de Touradas, 20 de março de 2020.