Póvoa de Varzim diz adeus às touradas
Decisão é irreversível e inclui a reconversão da praça de touros
Cidade vai ganhar um novo espaço desportivo e cultural
O Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim anunciou o fim das touradas na cidade, substituindo os espetáculos tauromáquicos por atividades desportivas e culturais para a população, seguindo assim o exemplo da cidade de Viana do Castelo.
A revelação foi feita numa entrevista à Rádio “Onda Viva”, a propósito do projeto de remodelação da praça de touros, onde o autarca Aires Pereira, referiu: “Este ano serão feitas as duas últimas corridas de touros naquele espaço. Isto porque, para nós podermos avançar com o projeto tivemos que tomar uma decisão. E, continuar a ter ali um misto de utilização desportiva pelos nossos jovens e pelas nossas instituições, eventos de espetáculos, todo o tipo de evento que lá poderão ser realizados, e ter que manter instalações que permitissem a realização de corridas de touros, era muito condicionante para a utilização de praticamente 99,9% dos dias do ano daquele equipamento”.
O autarca acrescentou que “foi tomada esta decisão: não haverá mais na Póvoa de Varzim e naquele espaço, qualquer corrida de touros a partir deste ano. Estou a dizer isto aqui em primeira mão, para que saibam, isto acabará definitivamente com esta questão”.
O projeto já está a ser elaborado e prevê-se que a obra arranca já em 2019 e decorra durante dois anos, com a cobertura do recinto e transformação da praça num espaço multiusos com balneários para a prática desportiva e condições para receber feiras, campeonatos desportivos, espetáculos culturais, etc.
A entrevista ao Presidente da Câmara pode ser ouvida aqui:
Entretanto, a plataforma Basta emitiu um comunicado saudando a decisão da autarquia que transcrevemos na íntegra:
Plataforma Basta saúda decisão da C.M. Póvoa de Varzim em acabar com touradas
Touradas desaparecem do norte do país;
Póvoa de Varzim e Viana do Castelo devem inspirar outros municípios;
Todos os anos as autarquias gastam milhões de euros para manter as touradas.
A plataforma Basta aplaude a decisão da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim de acabar com a realização de touradas na praça de touros da cidade.
O anúncio feito pelo autarca Aires Pereira numa entrevista à Rádio Onda Viva, vem ao encontro da vontade da população local, sem qualquer ligação cultural com a tradição tauromáquica, e constitui um grande exemplo de avanço civilizacional que está a ser difundido por todo o mundo.
As touradas na Póvoa de Varzim sobreviveram ao longo dos últimos anos graças ao apoio dos executivos anteriores, que financiavam a atividade e isentavam os empresários tauromáquicos do pagamento do aluguer da praça de touros, permitindo que ela se fosse mantendo numa região sem toureiros, forcados, ganadeiros e com poucos aficionados das touradas.
A Póvoa do Varzim, é uma das poucas praças de touros existentes no norte do país, e um dos equipamentos deste género que foram construídos durante o Estado Novo em zonas balneares do norte e centro do país como Viana do Castelo, Figueira da Foz ou Nazaré.
A Póvoa do Varzim segue assim o exemplo de Viana do Castelo, que também já deixou de financiar com fundos públicos a realização de touradas na cidade e decidiu reconverter o edifício da praça de touros num espaço de desporto e cultura para ser usufruído por toda a população durante o ano inteiro.
Recorde-se que a esmagadora maioria das praças de touros do país está encerrada durante todo o ano, abrindo para uma média de 2 touradas em 12 meses. Isto constitui um pesado encargo de manutenção, na maioria dos casos suportado pelos contribuintes, porque a manutenção é feita pelas autarquias locais.
Em Portugal, as touradas estão em profundo declínio, com uma redução drástica de público e sobrevivendo graças aos fundos públicos gastos anualmente por algumas autarquias na manutenção das praças de touros, aquisição de bilhetes, publicidade, subsídios a forcados, tertúlias e escolas de toureio, etc.
A plataforma Basta acredita que os exemplos de Viana do Castelo e Póvoa de Varzim inspirem outras autarquias do país a mudar de paradigma, e a dar um melhor aproveitamento a estes recintos, que podem ser readaptados para outras atividades não-violentas e sem crueldade com os animais.
Em 2017 atingiu-se o número mais baixo de sempre de touradas realizadas em Portugal, e as novas gerações já não se identificam com este tipo de espetáculo anacrónico, como se verificou recentemente, nos referendos realizados nas Universidades de Coimbra e Évora, a propósito das garraiadas académicas.
Claramente, o argumento da “tradição” não pode sobrepor-se à evolução cultural dos portugueses e à valorização crescente de um maior respeito pelos seres sencientes.
Lisboa, 12 de junho de 2018
Plataforma Basta.