Carta aberta ao Presidente da União das Misericórdias Portuguesas

Exmo. Senhor Presidente da União das Misericórdias,

União das Misericórdias apoia touradas

A plataforma Basta teve conhecimento, através da comunicação social, que a União das Misericórdias passou a fazer parte da Direção da Prótoiro – Federação de defesa da tauromaquia.

De acordo com as notícias, a União das Misericórdias assinou um protocolo com o objetivo de dinamizar cerca de 35 praças de touros do país.

A plataforma Basta considera chocante e muito grave que as Misericórdias utilizem o  dinheiro que deveria servir para o apoio social, numa prática violenta e de grande crueldade para os animais.

É verdade que:

  • As Misericórdias são proprietárias de um grande número das praças de touros existentes em Portugal;
  • Existe uma ligação histórica entre as Misericórdias e a tauromaquia em Portugal;
  • As Misericórdias assumiram um papel fundamental na promoção da tauromaquia após a forte contestação às touradas durante a revolução liberal, que chegou a proibir as touradas, autorizando-as depois para fins benéficos;

Mas também é verdade que:

  • Atualmente as Misericórdias já não dependem das touradas para realizar o seu trabalho social;
  • Que as touradas são um espetáculo que divide a sociedade e que implica violência e sangue;
  • A violência contra os animais é criticada pelo Papa Francisco e já é considerada crime em Portugal;
  • O Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, incluiu as touradas no relatório periódico de avaliação a Portugal, como uma das piores formas de violência contra crianças no nosso país;

A promoção de touradas por parte da UMP divide a opinião pública e causa polémica pela falta de transparência na forma como são promovidas as touradas benéficas sem que sejam publicadas as contas destes espetáculos, ou seja, ninguém sabe qual o montante que reverteu para as Misericórdias e/ou para as causas utilizadas na promoção dos espetáculos.

Recentemente foi realizada uma tourada na praça de touros de Santarém, propriedade da Misericórdia local, a favor das vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, com as bancadas praticamente vazias e sem que se conheça o montante angariado a favor das vítimas. A própria Associação das Vítimas desta tragédia, desconhecia a iniciativa e reconheceu não ter recebido qualquer donativo resultante destes espetáculos.

A União das Misericórdias é uma instituição credível com grande responsabilidade na formação de crianças e jovens, pelo que devia abster-se de promover um espetáculo em declínio, violento e bastante cruel para os animais, do qual resultam acidentes graves com feridos e mortos, privilegiando os valores da não-violência, empatia e compaixão com os animais.

A plataforma Basta solicita à União das Misericórdias que reconsidere esta decisão, que contraria os princípios da instituição, e que causou um impacto muito negativo na opinião pública.

Neste sentido, solicitamos o agendamento de uma reunião, em data que considerem oportuna, para esclarecer e debater este assunto.

Com os melhores cumprimentos e elevada consideração,

Plataforma Basta.

Se não concorda que as Misericórdias invistam dinheiro na promoção das touradas em Portugal, envie uma mensagem ao Presidente da União das Misericórdias Portuguesas aqui: www.basta.pt/misericordia