Milhares de euros gastos numa praça de touros abandonada em Pardais – Vila Viçosa

O Município de Vila Viçosa celebrou um contrato no valor de 7.100€ com uma empresa para a realização de obras de “construção e montagem de portas e janelas para a praça de Touros de Pardais”, localizada naquele concelho do Distrito de Évora.

A obra surge na sequência do investimento da Câmara Municipal de Vila Viçosa e da Junta de Freguesia de Pardais na construção de bancadas em volta do redondel que existia naquele local, obra que teve início em 2020 e foi concluída no ano seguinte.

Em 4 de Abril de 2018, numa reunião de Câmara foi aprovada por unanimidade uma proposta para a realização de um empréstimo a médio/longo prazo, à Caixa Geral de Depósitos, no montante de 60.000 euros para a construção da mini bancada da praça de touros de Pardais.

Em 2021, a Câmara assinou um contrato para a “Aquisição de materiais para a praça de touros de Pardais“¹ no valor de 12.529,52 € desconhecendo-se mais pormenores sobre os trabalhos realizados.

Nesse mesmo ano, foi aprovada uma proposta para batizar a nova praça de touros com o nome do cavaleiro tauromáquico José Luís Cochicho, nascido na freguesia de Pardais.

Curiosamente, o contrato agora celebrado para a construção e montagem de portas e janelas para a praça de touros, foi celebrado com a empresa “Manuel Joaquim Cochicho Pancadista”.

A praça de touros de Pardais nunca recebeu nenhum espetáculo tauromáquico autorizado pela Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC) e aquela freguesia do concelho de Vila Viçosa tem apenas 457 habitantes (Censos 2021). A nova praça de touros acolhe 400 espectadores.

Segundo o relatório de atividade tauromáquica da IGAC de 2022, nesse ano foi realizada a inspeção inicial ao equipamento, “aguardando a IGAC pela submissão do projeto de reabilitação da Praça de Toiros dos Pardais para análise/parecer“.

Por sua vez, o Presidente da Câmara de Vila Viçosa assumiu que a nova praça de touros não pode acolher espetáculos tauromáquicos porque a legislação atual obriga que as novas praças de touros, ou aqueles que tenham sofrido obras profundas, devem ter uma sala de abate, o que não acontece neste caso. O autarca referiu que já têm o projeto da sala de abate concluído e estão à procura de verbas para a sua construção.

Nas praças de touros onde exista uma sala de abate, os touros têm obrigatoriamente que ser abatidos nesse local por um médico veterinário, evitando assim o sofrimento extra do transporte até ao matadouro.

Trata-se de mais um investimento de fundos públicos num equipamento que vai permanecer fechado praticamente todo o ano, acolhendo apenas demonstrações de toureio e as chamadas “brincadeiras taurinas” que são promovidas à margem da legislação em vigor.

1. https://www.base.gov.pt/Base4/pt/detalhe/?type=contratos&id=7494535