Ernest Hemingway, “Death in the Afternoon“. 1932: “Acho que, de um ponto de vista moral moderno, ou seja, um ponto de vista cristão, toda a corrida de touros é indefensável. Há certamente muita crueldade, há sempre perigo, seja procurado ou de modo inesperado, e sempre existe a morte, e eu não deveria tentar defendê-la agora, só para dizer honestamente as coisas verdadeiras que eu encontrei acerca dela.”
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Sabias que Ernest Hemingway, embora fosse um confesso aficionado das touradas, reconhecia que as corridas de touros são violentas e cruéis?
Muitas vezes ouvimos políticos e figuras públicas a usar o nome do famoso escritor para defender a tauromaquia, mas quantas dessas pessoas leram efetivamente o que Hemingway escreveu nos seus livros?
O famoso escritor norte-americano sabia que além de todo o colorido e ambiente festivo de uma tourada, há o outro lado que ele próprio considerava indefensável na década de 30 do século passado.
Além disso, ele nunca mostrou nenhuma simpatia pela chamada “tourada à portuguesa“, que é considerada no país vizinho como uma fraude e uma deturpação da verdadeira lide por se retirar as “armas” de defesa ao touro (corte dos cornos e embolação) e permitir que os animais fiquem vivos, em agonia e sofrimento durante longas horas (ou dias), no final do espetáculo. Este tipo de crueldade nunca foi apreciada por Hemingway em nenhum dos seus livros e nunca se mostrou fascinado pelo toureio a cavalo.
Sendo evidente o fascínio de Hemingway pelas touradas espanholas, há que ter em conta o contexto e a sua consciência do caráter violento deste divertimento.
O falso mito de Francisco de Goya
Outro artista célebre usado na defesa das touradas é Francisco de Goya. O famoso pintor espanhol é frequentemente associado à defesa das touradas, devido aos seus desenhos sobre a lide tauromáquica. Mas está mais do que demonstrado que Goya não pretendia glorificar a tauromaquia, pelo contrário. Na verdade, Goya retratou a violência da tauromaquia e o seu lado cruel e sangrento, sendo o seu trabalho aproveitado para defender as touradas.
Recentemente, a Real Academia de Belas Artes de San Fernando (Madrid), onde se encontram depositadas as gravuras originais da coleção “Tauromaquia”, realizou uma exposição com vários trabalhos de Goya e de outros artistas “anti-taurinos”, demonstrando claramente que o artista tinha um olhar crítico sobre a violência das touradas.
A instituição considera que o trabalho de Goya foi instrumentalizado para defender a “fiesta nacional” em determinado período da história espanhola.
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