Desconhece-se quem recebeu as verbas dos festivais tauromáquicos a favor das vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande.
Associação de vítimas de Pedrógão Grande não foi contactada e desconhece a realização destas corridas de touros.
É comum o uso do nome de instituições para promover touradas sem o seu conhecimento.
No passado dia 24 de março realizaram-se na praça de touros de Santarém dois espetáculos tauromáquicos cujas receitas – supostamente – reverteram para as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, organizados pela empresa “Aplaudir”.
Conforme se pode verificar nas crónicas dos dois espetáculos, a adesão do público foi bastante fraca, com as bancadas da praça de touros praticamente vazias.
O artigo 22º do Regulamento do Espetáculo Tauromáquico (Decreto Lei 89/2014 de 11 de junho) refere que nos espetáculos tauromáquicos que “se destinam, comprovadamente, a angariar receitas para fins de beneficência” os promotores devem indicar na publicidade o nome da entidade beneficiária, o que não foi o caso de Santarém, onde os cartazes apenas referiam que os espetáculos revertiam “a favor das vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande”, sem informar a entidade a quem se destinavam os fundos.
Associação de Vítimas de Pedrogão Grande não autorizou e desconhece a iniciativa
Neste sentido foi apresentada uma denuncia à Inspeção Geral das Atividades Culturais por violação do referido artigo, e contactada a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande que referiu à plataforma Basta de Touradas desconhecer tais iniciativas.
A plataforma Basta de Touradas também contactou a Câmara Municipal de Pedrógão Grande que ainda não respondeu às nossas questões, nomeadamente, se a Câmara recebeu alguma verba resultante dos dois espetáculos e qual o montante angariado.
Tal situação levanta muitas dúvidas sobre a seriedade destes eventos e sobre o verdadeiro destino das verbas angariadas nos dois espetáculos tauromáquicos promovidos em Santarém.
Uso indevido de instituições para organizar touradas é frequente
A plataforma Basta de Touradas lamenta ainda que se recorra à violência contra animais para angariar fundos para as vítimas dos incêndios. Infelizmente, é frequente a organização de eventos tauromáquicos com “fins solidários”, muitas vezes usando de forma abusiva o nome de entidades, como foi o caso da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) que, em maio de 2016, viu o seu nome associado a um espetáculo tauromáquico de beneficência nos Açores, situação prontamente esclarecida pelo Presidente da Liga que garantiu que se tratava de uma utilização abusiva do nome da instituição e que a LPCC era “absolutamente contra a realização de touradas“.
A situação repetiu-se em 2018, com a organização de um evento tauromáquico na Herdade da Machoa, supostamente “a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro” situação prontamente desmentida pela instituição. A plataforma Basta de Touradas exige rigor e responsabilidade à IGAC no licenciamento deste tipo de eventos “solidários” e que seja cumprida a legislação em vigor, que obriga a divulgar as entidades beneficiárias destes espetáculos.
Lisboa, 2 de abril de 2018
Plataforma Basta.
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Fontes:
Notícia DN: https://www.dn.pt/sociedade/interior/direcao-da-liga-contra-o-cancro-nos-acores-demite-se-em-bloco-5166967.html
Crónicas do Festival tauromáquico: http://www.touroeouro.com/article/view/16088/festival-matinal-em-santarem-mais-do-mesmo-pouco