Arquidiocese de Évora afasta responsabilidades na colhida de crianças nas largadas em Coruche

Largada de touros
Largada de touros

Na sequência do acidente que vitimou uma criança de 10 anos numa largada de touros em Coruche e que, segundo os Bombeiros locais, fez mais 10 vítimas menores de idade, a plataforma Basta de Touradas contactou a Arquiodiocese de Évora devido ao envolvimento do Padre Elias Serrano Martins nos eventos tauromáquicos promovidos nas festas, nomeadamente, presidindo à bênção das tertúlias tauromáquicas locais.

Além disso, as festas onde ocorreram os acidentes com crianças, são organizadas pela Irmandade de Nossa Senhora do Castelo, Comissão de Festas e Câmara Municipal de Coruche, pelo que a Basta de Touradas solicitou esclarecimentos sobre o envolvimento do Padre Elias Martins e da igreja católica nestes eventos tauromáquicos e se a Diocese autorizou o padre a conceder a benção a estes eventos violentos e contrários à bondade cristã?

Em reposta à nossa solicitação, a Arquiodiocese de Évora emitiu um comunicado onde “lamenta profundamente os acidentes ocorridos e solidariza-se com a criança e a jovem colhidas na largada de touros do passado dia 16 de Agosto. Expressa a sua comunhão com as suas famílias e faz votos de rápida e completa recuperação”.

No entanto, descarta-se de qualquer responsabilidade em relação aos eventos tauromáquicos incluídos nas festas salientando que “a Irmandade de Nossa Senhora do Castelo e a Igreja (paróquia) nada
tem a ver com a parte profana. Os campos de acção estão bem definidos”
.

O comunicado assinado pelo Padre Manuel Vieira (Director do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora) acrescenta que a bênção das tertúlias tauromáquicas é uma atividade com cerca de uma década, que consiste de uma pequena celebração da Palavra.

Por sua vez, garantem que “o senhor padre Elias não esteve presente em nenhuma largada de touros nas ruas, nem foi aos touros à corda, onde aconteceram os acidentes com a criança e com a jovem. A bênção foi às 9 horas da manhã e os acidentes ocorreram ao final da tarde”, mas não repudiam a violência dos eventos realizados durante as festas nem a crueldade com os animais.

Terminam o comunicado a afirmar que “A Igreja está presente na vida das comunidades e participa, no campo que lhe é próprio, nas festas locais das diferentes paróquias” deixando entender que vão continuar a permitir que se realizem eventos que violam claramente a Convenção dos Direitos da Criança nas festas organizadas pela igreja local.

Anexo: Comunicado da Arquidiocese de Évora em resposta a Basta de Touradas:


Comunicado da Arquidiocese de Évora sobre as festas de Coruche 
Atendendo a um pedido de esclarecimento dirigido a esta Arquidiocese pela Plataforma Basta de Touradas, sobre acontecimentos nas recentes festas de Coruche, cumpre-nos prestar as seguintes informações: 
A Arquidiocese lamenta profundamente os acidentes ocorridos e solidariza-se com a criança e a jovem colhidas na largada de touros do passado dia 16 de Agosto. Expressa a sua comunhão com as suas famílias e faz votos de rápida e completa recuperação.
As festas de Coruche, celebradas entre os dias 6 e 18 de Agosto, são designadas Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo. Tem uma parte religiosa, de 6 a 15 de Agosto, e uma parte profana, de 16 a 18 de Agosto.
A organização das festas é da responsabilidade de três entidades: Irmandade de Nossa Senhora do Castelo, Comissão de Festas e Câmara Municipal. 
Irmandade de Nossa Senhora do Castelo é responsável pela parte religiosa, ou seja, a novena de 6 a 14 de Agosto, o Tríduo solene de 12 a 14 de Agosto e o Dia da Padroeira a 15 de Agosto, com a celebração da Eucaristia e a Procissão Solene pelas ruas da Vila, terminando na esplanada do Castelo, com a Bênção dos campos e dos lares com o Santíssimo Sacramento.
Comissão de Festas, juntamente com a Câmara Municipal, é responsável pelas festas profanas (Fogo de artifício, organização de espetáculos musicais, largadas de touros nas ruas, touros à corda nas ruas com a colaboração de um grupo da Terceira – Açores, tourada na Praça de Touros no dia 17 de Agosto, Cortejo histórico e etnográfico e outras actividades lúdicas. 
A Irmandade de Nossa Senhora do Castelo e a Igreja (paróquia) nada tem a ver com a parte profana. Os campos de acção estão bem definidos.
Quanto à bênção das tertúlias é uma atividade que já faz parte do programa das festas todos os anos (há mais de 10 anos). O senhor padre Elias, pároco de Coruche, fez a bênção das tertúlias. Foi feita às 9 horas da manhã num local central para todas. A bênção consta de uma pequena celebração da Palavra.
As tertúlias (este ano foram 24) são formadas por pessoas de todas as idades, pessoas amigas, que se juntam nesse dia, nos diversos pontos da vila, para conviver e confraternizar entre si nas diversas refeições do dia e, pelas 16 horas, juntam-se todas e fazem um desfile pelas ruas da Vila.
O senhor padre Elias não esteve presente em nenhuma largada de touros nas ruas, nem foi aos touros à corda, onde aconteceram os acidentes com a criança e com a jovem. A bênção foi às 9 horas da manhã e os acidentes ocorreram ao final da tarde.
Não é costume pedir licença à Cúria Arquidiocesana para a realização desta festa e, portanto, não foi pedida.
A Igreja está presente na vida das comunidades e participa, no campo que lhe é próprio, nas festas locais das diferentes paróquias.
P. Manuel Vieira
(Director do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora)