Touradas no Brasil e em África não deixaram saudades.

Touradas são proibidas no Brasil pela crueldade contra os animais.

Em Moçambique e Angola as praças de touros ficaram ao abandono após a independência.

Imposição da tradição tauromáquica além fronteiras foi um verdadeiro fracasso.

As touradas são atualmente proibidas por lei no Brasil, mas a tauromaquia foi introduzida pelos portugueses, tendo-se mantido ativa neste território até ao século XIX. Também em África os portugueses tentaram introduzir a tradição tauromáquica, mas após a independência das ex-colónias, as praças de touros ficaram ao abandono. A tentativa de expandir o negócio ganhou força com a aprovação do primeiro Regulamento Tauromáquico em 1953, mas a tradição não deixou raízes nos territórios colonizados pelos portugueses.

Embora existam registos da realização de touradas no Brasil e em África durante o século XIX, a sua promoção foi estimulada durante o Estado Novo, quando este divertimento se tornou num negócio comercial lucrativo, com legislação própria, principalmente em África.

Em Portugal o Governo incluiu as touradas nas suas campanhas de dinamização turística, não só em zonas balneares (Viana do Castelo, Figueira da Foz, Nazaré, Póvoa de Varzim) mas também nas antigas colónias africanas e até na Ásia.

Mas além fronteiras os resultados não foram bem sucedidos, tendo a tradição tauromáquica sido abandonada em África após o 25 de abril de 1974. A história diz-nos que a tentativa de introduzir as touradas além fronteiras, resultou num grande fracasso.

Touradas no Brasil

As touradas foram proibidas no Brasil em 1934 pelo presidente Getúlio Vargas. O Decreto nº 24.645, de 10 de Julho desse ano vetou a realização de “lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie diferente, touradas e simulacros de touradas”.

“A redação atual do Mequetrefe é implacavelmente adversa a corridas de touros…”

No entanto, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 já previa que “incumbe ao poder político proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.

Em S. Paulo há registo de touradas no século XIX com toureiros espanhóis e bois de raça oriundos de Portugal, mas o divertimento não foi consensual tendo desagradado a grande parte da população. O debate acabou com a aprovação de legislação que proibia os espetáculos de tauromaquia. Em 1912 um empresário tentou revogar a lei, e construir uma praça de touros na cidade, mas sem sucesso.

Outras tentativas foram realizadas para revogar a proibição, mas o assunto foi encerrado com a Lei Orgânica do Município, aprovada em 1990, que determinou claramente que “ficam proibidos os eventos, espetáculos, atos públicos ou privados, que envolvam maus tratos e crueldade de animais”.

Três anos mais tarde, a Lei 11.359/1993, deixa claro que rodeios, touradas e similares estão proibidos em S. Paulo.

No Rio de Janeiro as touradas são também anteriores à independência, com registos que remontam ao século XVII. Quando a família real se instalou na cidade, a popularidade aumentou (entre 1808 e 1821).

Após a independência do Brasil, as touradas desapareceram, com breves interrupções, como em 1840 e 1841 e entre 1847 e 1852, sendo promovidas como espetáculo comercial, organizadas por empresários tauromáquicos. Este tipo de entretenimento tentava aproximar o Brasil dos costumes europeus, mas algum tempo depois, a crueldade do espetáculo sobrepôs-se a um suposto vínculo com o mundo moderno e civilizado.

Durante esta época, alguma imprensa manifestava o seu repúdio pelo exótico espetáculo, como aconteceu em 1884 com o Jornal “Mequetrefe” onde um cronista, depois de convidado a assistir a uma tourada, declinou o convite fazendo questão de se justificar nas páginas do Jornal: “A redação atual do Mequetrefe é implacavelmente adversa a corridas de touros, e não deseja de modo algum concorrer para que esse bárbaro divertimento logre introduzir-se nos nossos usos e costumes”.

Apesar da intensa atividade tauromáquica no Rio de Janeiro, a contestação esteve sempre presenta, e após a República em 1889, as touradas duraram poucos anos na capital brasileira. Em 1908 foram definitivamente proibidas pelo Decreto nº 1.173, de 12 de maio.

Manaus foi outra cidade onde as touradas chegaram a colher popularidade, onde os toureiros chegavam a ser índios que atuavam em tronco nu, e não, com o habitual “traje de luzes”. No final da década de 50 foram realizadas touradas na cidade de Manaus, autorizadas pelo Governador (desde que não fosse morto o touro na arena) quando a atividade já era proibida no resto do país, mas as crónicas da época demonstravam que a crueldade com os animais era motivo de grande incómodo, não só para alguma imprensa, mas também para as sociedades protetoras dos animais que se manifestaram contra esta autorização.

Touradas em Moçambique

Em Moçambique há notícias da realização de touradas desde o final do Século XIX em Lourenço Marques, atual Maputo. Inicialmente promovidas em recintos improvisados, foi após o regime ter legalizado este espetáculo nos anos 50 que foi construída a Praça de Touros “A Monumental de Lourenço Marques”. A praça foi inaugurada em 1956 durante uma visita do Presidente da República, Craveiro Lopes e tinha capacidade para cerca de 10.000 pessoas.

Atualmente a praça de touros é um edifício em ruinas, apesar de ser ocupado por algum comércio, como oficinas de automóveis e outros estabelecimentos. Por sua vez, o piso da arena, chegou a ser aproveitado para a plantação de legumes.

Touradas em Angola

Em Angola ainda existem ruínas da velha tradição tauromáquica, embora esta prática não tenha conseguido ganhar raízes em África. A praça de touros de Luanda (também conhecida como “Tourada”) foi inaugurada em 1964, encontrando-se abandonada e em muito mau estado de conservação há vários anos, albergando associações e algumas lojas comerciais.

Depois da independência angolana a praça serviu para a realização de concertos, até o Governo ter anunciado em 2013 a intenção de avançar com um projeto de transformação do velho edifício num “Palácio da Cultura, projeto que não chegou a ser concretizado. Alguns anos mais tarde, em 2018, era noticiado que o Governo Angolano tencionava avançar nesse ano com a recuperação do edifício convertendo a praça de touros num centro cultural.

Tradição imposta noutras paragens

Na Guiné Bissau existem também registos da realização de touradas, sem grande relevância.

A história diz-nos que, por influência espanhola também existiram praças de touros noutros locais de África, como Tânger, Melilha, Uchda, Villa Sanjurjo e Oran.

Touradas no oriente: Os empresários tauromáquicos ainda tentaram a sua sorte na Âsia, onde existiam comunidades portuguesas, como por exemplo, em Macau.

Também na Rússia foram anunciadas touradas em 2021, promovidas por um empresário tauromáquico português. O anúncio levantou uma grande polémica no país e, apesar de já terem sido vendidos alguns bilhetes, as corridas à portuguesa nunca chegaram a acontecer na Rússia.

Fontes:

  • Antiga praça de touros transformada em Palácio da Cultura: https://www.uccla.pt/noticias/antiga-praca-de-touros-transformada-em-palacio-da-cultura
  • Antiga praça de touros de Luanda com promessa de conversão este ano: https://www.dn.pt/lusa/antiga-praca-de-touros-de-luanda-com-promessa-de-conversao-este-ano-9061846.html
  • Touradas em São Paulo: Atividade gerava polêmica no século passado: https://www.saopaulo.sp.leg.br/blog/touradas-em-sao-paulo-atividade-gerava-polemica-no-seculo-passado
  • Praça de touros de Luanda (Wikipédia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_de_Touros_de_Luanda
  • Revista Manchete. 28 de novembro de 1959.
  • O Mequetrefe, 20 jun. 1884, p. 6.
  • Melo, Victor Andrade de. “Pois temos touros?”: as touradas no Rio de Janeiro do século XIX (1840-1852)