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7. O surgimento dos Forcados Amadores

Curiosamente, até esta altura, apenas existiam grupos de forcados profissionais, que eram contratados pelos empresários para animar o público nas praças de touros. Eram constituídos por trabalhadores do campo, pobres e esfarrapados que se sujeitavam a enfrentar os touros nos intervalos.
Segundo Gonçalo Ribeiro Telles, “a pega não é mais do que agarrar um touro para ser capado e para ser posto com a madrinha no carro de bois“, ou seja, surgiu dessa cerimónia coletiva realizada no campo ribatejano pelas classes mais baixas. A isto junta-se uma tradição monárquica, defendida por alguns historiadores tauromáquicos, em que os “moços de forcado” faziam a guarda ao rei na praça de touros.
Certo é que foi com o Estado Novo e a promoção de um modelo designado de “tourada à portuguesa” que a atuação dos forcados começou a ser valorizada e estimulada. Essa valorização atraiu grupos de jovens da aristocracia rural, que rapidamente começaram a ocupar o lugar dos pobres “forcados profissionais”, atuando sem cobrar dinheiro e daí chamarem-se “forcados amadores”. Rapidamente os “amadores” ocuparam o lugar dos profissionais passando a participar ativamente nas corridas.
Acrescente-se que a “pega” dos touros também não é uma criação totalmente portuguesa. É possível que este ritual também tenha sido influenciado pela “suerte de mancornar” muito parecida com a “pega dos forcados” que era praticada nas herdades de criação de gado bravo em Espanha, mas que entretanto caiu em desuso no país vizinho.
A verdade é que a atuação dos forcados preencheu um vazio na lide de touros em Portugal. Como era proibida a morte do touro no final, a “pega” passou a simbolizar o domínio final do “homem” sobre a “besta” e atualmente, por uma questão de honra, nenhuma corrida pode terminar sem que o touro seja dominado pelo grupo de forcados.
Durante este período as touradas foram levadas para as antigas colónias portuguesas. Abolidas no Brasil (proibidas no Rio de Janeiro pelo Decreto nº 1.173, de 12 de maio de 1908) em África também não vingou a tradição marialva, restando atualmente apenas as ruínas de praças de touros em Angola e Moçambique erguidas durante a ditadura. No Oriente, os portugueses também tentaram introduzir a “tradição” em Macau e na China, mas sem sucesso.