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Índice de capítulos:
- Introdução
- O início das lutas com touros
- A revolução liberal aboliu as touradas
- A República proibiu as touradas
- As touradas e a escravatura
- O Estado Novo criou e legalizou a “tourada à portuguesa“
- O surgimento dos Forcados Amadores
- A democracia, os subsídios e a cultura
- O fim das touradas nas regiões Norte e Algarve
- A violência das touradas e as crianças
- O cenário atual
- Cronologia
- Bibliografia
1. Introdução

Partindo da “História da Tauromaquia” de Jaime Duarte de Almeida (obra editada entre 1951-1953) e outras publicações relacionadas, realizei ao longo de 10 anos uma pesquisa sobre as origens e desenvolvimento das lutas com touros em Portugal. Constatei que todas as versões editadas foram escritas pelos amantes das touradas com notória parcialidade e imensas lacunas, desde logo a falsa ideia que estas lutas foram sempre muito apreciadas em Portugal, o que não corresponde à verdade, conforme se demonstra neste trabalho.
A realização de touradas nunca foi consensual na sociedade portuguesa e por quatro vezes estiveram proibidas no nosso país (em 1578, 1809, 1836 e 1919) principalmente pela violência associada que resultava – e que ainda resulta – num elevado número de feridos e mortos, estando a sua promoção sujeita a uma licença especial até ao ano de 1953, quando foram legalizadas.
- Proibição das lutas com touros em Portugal:
- 1568 – Lutas com touros proibidas por D. Henrique
- 1809 – Touradas proibidas por D. João VI
- 1836 – Touradas abolidas por Passos Manuel
- 1919 – Touradas proibidas pela primeira lei de proteção animal
A sua promoção foi muito inconstante ao longo dos anos, havendo registo de vários períodos em que praticamente deixaram de existir os combates com touros em Portugal, principalmente em momentos marcantes da evolução do nosso país como durante a Revolução Liberal, a implantação da República ou o 25 de Abril de 1974.
Não há dúvidas que as touradas são um legado dos períodos mais retrógrados da nossa História, como os regimes absolutistas e o Estado Novo. Na década de 50, Salazar eliminou todas as restrições que tinham sido impostas às touradas durante a revolução liberal e legalizou pela primeira vez este espetáculo, criando a chamada “tourada à portuguesa” com a aprovação do primeiro regulamento tauromáquico em 1953 e, mais tarde, com a revisão do regulamento em 1971, dando origem às diferentes categorias de artistas tauromáquicos que ainda hoje existem e a uma versão lusitana baseada nas velhas touradas reais.
Os momentos de evolução civilizacional em relação a um Portugal velho e absolutista, foram os momentos mais difíceis para os defensores da atividade tauromáquica, associada desde sempre à escola marialva e à monarquia absolutista, onde merece destaque o Rei D. Miguel (conhecido como o “Usurpador” ou o “Rei toureiro”) que foi responsável pelo início da criação de touros de lide nas lezírias do Ribatejo, nas chamadas Terras do Infantado, onde ainda hoje estão sediadas as principais ganadarias de gado bravo e a Associação de Criadores de Toiros de Lide.
