Estatísticas oficiais desmentem a indústria taurina

Touradas perderam quase 20.000 espectadores em 2014

Touradas perderam cerca de 40% do público em apenas 4 anos

Campo Pequeno perdeu quase 50% do público das touradas nos últimos 4 anos

Na semana passada a indústria taurina anunciou que em 2014 “as praças de toiros portuguesas registaram um aumento da afluência de público” realçando ainda um aumento no número de touradas realizadas. Refira-se que estes dados incluiam espetáculos “que não carecem de autorização da I.G.A.C.”, ou seja, eventos ilegais.

O alegado aumento de público e de touradas em Portugal, é agora desmentido pelos números oficiais divulgados pela Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC), entidade a quem compete o licenciamento e fiscalização dos espetáculos tauromáquicos em Portugal.

Os dados divulgados pela IGAC1 revelam que em 2014 as touradas perderam 19.000 espectadores em relação à temporada de 2013, tendo-se assistido ainda a uma diminuição do número de touradas realizadas em Portugal (menos 20).

Registe-se que, segundo a IGAC, nos últimos 4 anos (2010-2014) as touradas perderam cerca de 40% do seu público em Portugal e a principal praça de touros do país – a praça do Campo Pequeno – perdeu 48,9% dos espectadores das touradas ali realizadas.

estatísticas IGAC

Fonte: Relatório da Atividade Tauromáquica 2014 – IGAC

A plataforma Basta defende que a questão das touradas seja analisada com base em dados rigorosos e credíveis, por isso já solicitou à IGAC que a contabilização do número de espectadores seja efectuada com base no número de ingressos em cada corrida, em vez da atual estimativa utilizada pela Inspeção Geral.

A plataforma Basta apurou que os dados apresentados pela IGAC são obtidos através de uma estimativa efetuada em cada praça de touros pelo Diretor de Corrida, ou seja, por elementos ligados ao sector tauromáquico (ex-forcados, ex-toureiros, e familiares de artistas e empresários) que avaliam (a olho) o número aproximado de pessoas que estão nas bancadas da praça, em vez de contabilizar os ingressos vendidos e oferecidos. A própria IGAC não sabe explicar porque utiliza este método, que consideramos arcaico e que carece de rigor e isenção.

Comparando os dados de anos anteriores, constatamos que os dados estimados pela IGAC, apesar de revelarem um crescente decréscimo da atividade tauromáquica, são extrapolados, chegando a contabilizar mais do triplo do número de espectadores apurados pelo Instituo Nacional de Estatística (INE) com base nos bilhetes vendidos e oferecidos, concedendo à atividade tauromáquica uma dimensão que, na verdade, esta não tem.

Infelizmente, o INE deixou de contabilizar o público das touradas em 2010, mas os últimos dados publicados (2010) indicavam que as touradas tinham menos público que os espetáculos de teatro, concertos de música clássica, concertos de música ligeira e até folclore.

A importância económica da tauromaquia para o país é atestada pelos números avançados pela indústria taurina, que indicam que as exportações de “toiros de lide” para Espanha e sul de França “aumentaram quase 50%” no ano passado”. Importa referir que esses valores correspondem a apenas 0,0003% do volume exportações portuguesas em 20142.

A insustentabilidade da tauromaquia é assumida pelos próprios intervenientes em declarações que contrariam as estatísticas difundidas pela indústria taurina: “Neste momento, e mesmo para uma primeira figura, é difícil viver só dos toiros… E quem disser o contrário, digo-lhe já que não é verdade!”3, referiu em 2012 à imprensa taurina Luís Rouxinol, um dos cavaleiros tauromáquicos com mais atuações em Portugal.

A Plataforma Basta continuará a pugnar pela verdade e pelo rigor.

Fontes:

1. Relatório da Atividade Tauromáquica 2014 – IGAC

2. Correio da Manhã: https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/ministro-rui-machete-diz-que-exportacoes-vao-crescer-este-ano

3. naturales-tauromaquia.com: http://www.naturales-tauromaquia.com/categoryblog/3014-triunfadores-naturales-2012-entrevista